Aquele acordar cedo que nem te deixa dar aquela espreguiçada gostosa que
te faz lembrar o motivo de ter ido dormir tão tarde ou de ter ficado sem dormir
todo o final de semana, porquê ele é curto demais pra esquecer e/ou fugir
daquela longa e "apurrinhenta"
semana de trabalho na movimentada metrópole. O cafezinho preto pra levantar os
ânimos da já conhecida "segunda da ressaca" vai se sacudindo
com as paradas nas estações do metrô lotado dentro daquele copo de plástico mal
feito da lojinha de café instantâneo que fica ali na esquina da sua casa, até
porquê não dá pra ir mais longe, seja com a caminhada ou com um passeio naquela
bicicleta que você comprou pela internet a seis meses e ainda não foi capaz de
usar por conta da correria que te atormenta sempre.
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Era até gostoso de olhar aquelas saias justas com blusas sociais, ou
aqueles ternos que nem pareciam esquentar no calor do Centro do Rio, de tão
bonitos. Eu não conhecia a marca e nem me importava se eram feitos na Europa ou
ali na costureira do Tingua, o fato era que eles davam um status de importância
que eu costumava almejar, e quando finalmente consegui, quando finalmente eu fiz
parte daquela multidão que sobe e desce as escadas que levam aos precários
transportes coletivos, eu vi que não valia tanto a pena. Quero dizer, não valia
nada a pena. Não era um bom negócio trocar um café da manhã não instantâneo por
aquela correria que me fazia esquecer o pão dentro do armário da cozinha por
nunca comer, não era bacana não ter pra quem cozinhar, aliais eu nem sabia mais
cozinhar. E olha que minha mãe me deixou boas receitas, receitas que eu perdi
na mudança daquela casa com quintal, onde
meus pais moravam, pro apartamento menorzinho que eu tinha condições de passar
o aspirador de pó de vezes em quando pra não me atacar a rinite.
Ta ficando tenso ter que olhar pra essa parece de tijolos sempre que eu
acordo com o barulho do trem passando, ta ficando irritante não poder morar num
lugar mais apropriado por causa daqueles jovens ambiciosos que trazem sempre um
currículo melhor do que o meu com seus exames de Cambridge e afastam
cada vez mais a minha promoção à escritora contratada, uma vez que eu fui
confundida com revisora dos erros de português desses "escritores
novinhos" que não sabem nem empregar uma virgula direito, e diga-se de
passagem que eu adoro a literatura contemporânea e admiro essas jovens cheios
de gás.
Pode- se dizer então que vale sim tomar um café de manhã não instantâneo
na bancada da cozinha, que eu vou gostar de ter que varrer as folhas no quintal
de vez em quando e de ter que demorar uns 40 min. pra conseguir chegar no
escritório, a fim de na volta passar no mercado pra comprar os ingredientes pra
janta que eu vou fazer pra aquele carinha especial que eu penso todos os dias
de manhã quando me espreguiço jurando que não vou mais passar a noite acordada
fazendo planos com ele no telefone _ por mais que eu saiba que vou fazer isso
sempre; ou escrevendo meu próximo romance que vai ser publicado com as vírgulas
colocadas nos lugares certos.